O sangue que jorrou nas ruas de Pedro Alexandre, no Nordeste
baiano, a 355 km de Salvador, com o assassinato do ex-prefeito Petrônio Gomes
(PL), a dois dias da convenção, devolveu o poder à família da vítima, que
governou o município por dois mandatos. Enfrentando dois adversários poderosos,
o irmão Pedro Gomes (SD) ganhou a eleição. A viúva Cica Gomes (PR), que iria
ser a candidata, traumatizada com a morte do marido, entrou na chapa como vice
e ainda elegeu a filha Pâmela Gomes (PR), de apenas 19 anos, vereadora. Embora atuando politicamente na Bahia, a família Gomes tem
raízes em Serra Talhada, a 400 km do Recife.
O ex-prefeito tombou morto às
6h40m no sábado 30 de julho, quando fazia contatos com eleitores no mercado da
cidade. Alvejado por dois tiros disparados por dois homens que desceram numa
moto, Petrônio era irmão do vereador Pessival Gomes, ligado ao grupo político
do prefeito de Serra Talhada, Luciano Duque (PT). Passado quatro meses, o crime
continua um mistério, mas a família não tem dúvidas de que foi político.
Petrônio vinha de um longo desentendimento com o prefeito
Salorilton de Oliveira (PP), mais conhecido por Salon, de quem já foi aliado
político quando governou o município. Em 2014, chegou a ser preso em
cumprimento a um mandado de prisão expedido pelo juiz Antônio Henrique da
Silva, da Vara Crime de Jeremoabo, na Bahia, e condenado a cinco anos e seis
meses de prisão pelo crime de extorsão. “O crime tem todas as características
de que foi politico”, diz Paulo Gomes, irmão da vítima.
A comoção na cidade, de apenas 20 mil habitantes, fez o
prefeito Salon ficar longe do poder a partir de janeiro. Seu candidato, Anísio
Sales, que disputou por uma coligação encabeçada pelo PCdoB, perdeu por uma
diferença de 254 votos. Para o candidato da terceira via, Yuri Andrade, do PP,
o prefeito eleito abriu uma frente de 372 votos. O pleito foi extremamente
disputado e realizado sob o império da violência.
Escolhido no lugar da viúva, que estava sendo preparada pela
vítima, Pedro fez apenas 20 dias de campanha. Temendo ser morto, gastou muito
mais com segurança do que com as despesas convencionais de uma eleição.
Incrivelmente, não realizou um só comício, não fez uma única carreata nem
tampouco arrastão. “Preferi o porta a porta”, diz ele, que está afastado do
município desde o dia da eleição.
Aliás, a família inteira está fora do município. “No dia da
eleição, deixamos a cidade sem esperar o resultado. Não houve nenhum tipo de
comemoração”, revela a viúva Cica Gomes, agora vice-prefeita eleita. Para ela,
a vitória do grupo foi uma resposta da população nas urnas ao que ocorreu com o
seu marido. “Petrônio era o pai dos pobres e até hoje a cidade chora a sua morte”,
afirmou. Ela e a filha Pâmela, vereadora eleita, só desejam voltar ao município
para a diplomação, em 13 de dezembro.
Encravada na Serra Negra, uma pequena cordilheira que
atravessa a fronteira dos Estados de Sergipe e Bahia, com 750 metros de altura,
Pedro Alexandre tinha tudo para ser uma cidade pacata e feliz, como todas do
semiárido nordestino, mas as brigas políticas mudaram o seu semblante. Já
quando tomou posse em 2013, derrotando o grupo do ex-prefeito Petrônio Gomes, o
prefeito Salon Oliveira foi a uma emissora de rádio em Jeremoabo, cidade
vizinha, e grande parte da sua entrevista, ainda disponível na internet,
dedicou à questão da violência.
“Fui eleito pela vontade do povo. A partir de 1 de janeiro
de 2017, Pedro Alexandre não vai ter três prefeitos, mas um prefeito, que vai
devolver à paz, à segurança a sua população. Vou construir o reinado da paz, o
império do medo está com seus dias contados”, prometeu. Na época, Salon disse
que o município era um território sem lei, onde tudo era possível fazer,
atribuindo o desajuste ao grupo liderado por Petrônio.
A família do ex-prefeito assassinado, entretanto, diz o
contrário. Afirma que a desordem reina no município, hoje. “Pedro Alexandre
vivia em paz até a eleição do atual prefeito. Aqui, nada funciona, o poder de
mando do prefeito está acima de tudo. Quem prometeu acabar com o império do
medo espalhou medo e terror”, acusa Paulo, irmão de Petrônio, que mora em
Itabaiana (SE).
Segundo Paulo, Petrônio era um político com profunda
identidade com o povo pobre da sua cidade. “Quando prefeito e até antes de
morrer, ele atendia 2,5 mil famílias com um sopão, distribuía cesta básica e
mandava até matar um boi por semana para matar a fome do povo”, disse,
acrescentando que, em sua gestão, ainda construiu 32 barragens e tinha 28
tratores fazendo benfeitorias nas áreas rurais. Fonte: MaisPB
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