Há quatro semanas a população de Cipó vem sofrendo as
consequências da tempestade que assolou a cidade e destruiu completamente cerca
de cinquenta residências, principalmente na comunidade da Fazenda Gideão. A prefeitura Municipal decretou estado de Calamidade
Pública, na ocasião dos preparos para a Festa de Reis, um dos mais tradicionais
festejos da região, contudo, concretamente, nada foi feito.
A Lei de Benefícios Eventuais,
sancionada ao final de 2015, previa doação orçamentaria para atenção às
necessidades da população em diferentes situações, incluindo, em casos de
desastres naturais, o pagamento de alugueis sociais, dentre outros benefícios
ali citados.
O que se percebe é que, decorridos quase um mês, a população
se vê ainda desamparada pelo poder público. Os moradores do Gideão dizem que o
prefeito visitou a comunidade um dia aos a tempestade, em comitiva, com os
vidros do carro fechados, apenas filmando de uma réstia do carro e que jamais
desceu para prestar sua solidariedade.
Em depoimento gravado com autorização dos mesmos, estes
relatam que sentiram-se extremamente ofendidos com o descaso e o escárnio com
que a situação foi tratada, ao tempo em que elogiam a população cipoense pela
solidariedade e preocupação demonstrada. Validam também a importância das
doações recebidas por Ribeira do Pombal, Antas, Fátima, Crisópolis, Nova Soure,
Adustina, Madre de Deus, Cícero Dantas e outros municípios.
É preciso citar também, que diante de toda essa tragédia, há
aqueles políticos que se aproveitam das dores alheias para se promover. Nunca
se viu tantos deputados e assessores visitando Cipó, fotografando, tentando
fazer das dores alheias, motivos para a garantia de votos.
As casas continuam ao chão. As que estão sendo reconstruídas
nesse momento, são as que os proprietários receberam doações diretas e que não
tiveram seus materiais de construção roubados por aqueles que se aproveitam da
miséria alheia. Sm, os moradores relatam que estão sendo covardemente roubados
e que os meliantes chegam à noite nas casas destruídas e levam telhas, blocos,
madeira, enquanto os moradores estão vivendo de favor em casas de parentes.
Enquanto isso, nossos administradores aproveitam suas férias
no litoral ou nos países do Mercosul. O dinheiro que não foi gasto na festa de
Reis e que pode e deve ser utilizado na reconstrução das casas, não se sabe por
onde anda.
A prefeitura alardeia que distribuiu colchoes, alimentos e
que receberá 40.000 blocos, mas esses insumos foram fruto de programas do
Estado e de doações das pessoas comuns. O lixo toma conta das ruas, o entulho
das construções abarrota as calçadas, o dinheiro flui como o rio para as contas
de poucos, enquanto muitos tem seus sonhos paralisados pela força do vento que
já passou. A vida se arrasta lenta, como as águas do Itapicuru, que lentamente
retorna ao seu leito.
Nossa cidade está sendo varrida do mapa. Não por um furacão,
mas pela falta de compromisso de nós mesmos, cidadãos cipoenses para com a
nossa cidade. Nos roubaram até a
dignidade e a força para dizer das nossas dores, do nosso desamparo.
Para finalizar gostaria de agradecer à equipe da Rádio
Pombal FM pela calorosa acolhida nesta manhã de terça-feira e, diante da
repercussão da audiência, gostaria de esclarecer alguns pontos:
1 - a entrevista foi gravada por um cidadão ouvinte da rádio
que estava na rua compartilhou através do whattsapp, por isso não estava com
uma boa qualidade sonora. Assim que for disponibilizado o áudio por parte da
Rádio Pombal FM, compartilharei com
amigos e certamente eles a replicarão em outros grupos.
2. - embora eu more e trabalhe em Salvador e minha família
em Cipó, nenhum de meus parentes tem empregos na prefeitura, exceto os que são
concursados. Não viso a nenhum cargo público, muito menos “mamar” na máquina
pública como é de costume de muitos que se dizem éticos e comprometidos com a
cidade. Meus irmãos não residem em Cipó e todos trabalham e exercem suas
funções com competência e sem dever favores a nenhum político, portanto, minha
opinião continua e continuará independente. Não acredito nas pessoas que tem
seus empregos ou galgam degraus na hierarquia por indicações políticas e sim
naquelas que crescem profissionalmente pelos seus próprios méritos e
competências.
3. Acredito no fruto do trabalho, do compromisso e da
responsabilidade e todos que doaram e doam seu tempo em benefício do seu
semelhante não tem necessidade de aparecer e sim de fazer o bem. Vamos parar de
pensar que só se faz algo por alguém buscando retorno. Graças a Deus, os bons
ainda são maioria neste mundo, senão estaríamos perdidos!
Por fim, não espero mais as águas de um novo tempo, que já
não é mais novo, e que escoa lentamente, deixando atrás de si um rastro de
destruição, de morosidade, de irresponsabilidade e de incompetência em todas as
áreas. E por falar em águas, Odoyá,
Yemanjá! Por Niclécia Gama, em 02.02.2016.
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