Mas nada nessa vida, acontece por acaso. O calor que
havia feito em Cipó nos últimos dias, já predizia fortes chuvas. Aliado
ao calor, o desmatamento desenfreado da caatinga, deixou a terra nua,
sem árvores e isso facilita a formação de cones de vento, os tornados,
que, segundo o relato de testemunhas oculares, eram dois, e deixaram em
seu caminho um rastro de destruição, derrubando casas e árvores
centenárias, como o velho umbuzeiro da casa de meus avós, no Buri, que
foi arrancado pela raiz.
Diante de tanta destruição, percebo o
quanto somos pequenos e ao mesmo tempo, podemos encontrar fortaleza, no
reerguermos e sermos solidários. As campanhas de doação começaram a
surgir e despertaram na população um sentimento de solidariedade e de
união nunca visto.
O socorro aos desabrigados começou
imediatamente quando a comunidade foi ao socorro dos desabrigados e se
intensificou, quando Claudio Leone em parceria com a Radio Milênio FM
engatilharam uma campanha para doações. Estava de férias, mas
imediatamente me dispus a colaborar, independente das minhas querelas
com o radialista da cidade. Nessa hora, as simpatias e antipatias
pessoais, as ideologias, a política, devem cair por terra pois O HUMANO e
sobrepõe às diferenças e alcance da Rádio aliado ao poder da
comunicação teve um papel primordial para o sucesso da campanha.
Obrigada Arildo Leone, por disponibilizar a programação e o espaço
físico da rádio para que pudesse receber as doações e os voluntários.
Você é um cipoense de valor!
O grupo de Whatts app “Doações para
Cipó”, conseguiu reunir donativos na Assembleia Legislativa e outros
órgãos, além de civis, 50 colchoes, 100 caixas e água, móveis, roupas,
alimentos e brinquedos e articulou seu trabalho com a campanha da Rádio
Milênio para que a distribuição de donativos atingisse o seu principal
objetivo: que atendessem à população em situação de emergência com
eficácia e eficiência.
O poder público, isto é, a Prefeitura
Municipal, assumiu a postura administrativa correta, de decretar estado
de Calamidade Pública e suspender a Festa de Reis,a contra-gosto das
pessoas egoístas e que não possuem alteridade ou sentimento de
coletividade, porém ficou atravancada com a burocracia (ou burrocracia,
não se sabe ao certo). Ficou focada no cadastramento das famílias por
duas semanas. Necessário, porém moroso. Iniciou a retirada das árvores,
distribuiu 50 colchões doados pela Defesa Civil, mas precisa
intensificar a limpeza da cidade, pois nas ruas adjacentes ao centro
ainda existem muitas árvores que estão sendo retiradas dos quintais. É
importante também intensificar o trabalho de combate aos mosquitos, que
se proliferam sem controle nesses tempos pós-chuvas.
Também
conversei com alguns políticos e me relataram que nesse momento estavam
ajudando as pessoas que os procuram, que não estão levando ajuda ao
local para não terem suas ações vinculadas aos interesses
político-eleitorais. Enquanto isso, os voluntários distribuíram
quase 500 cestas básicas, roupas, colchões, água potável, arrecadamos
outra quantidade de alimentos, móveis, eletrodomésticos, brinquedos,
materiais de construção. Estamos anos-luz à frente do poder público e
isso se deve à organização, aos objetivos e metas claras estabelecidas
pelos voluntários, que, necessariamente não estão presentes na cidade
mas utilizam-se das ferramentas de comunicação necessárias para fazer
um trabalho articulado e preciso.
Não poderia deixar de agradecer
à Pombal FM, na pessoa de Joilson Costa, que abraçou nossa causa desde o
primeiro instante e, graças ao amplo alcance da Rádio Pombal FM, a
cidade recebeu doações de vários municípios vizinhos, como Fátima,
Banzaê, Nova Soure, Crisópolis, Ribeira do Amparo, dentre outros.
Não causamos
comoção nacional porque somos uma cidadezinha pobre, no meio do sertão
baiano, com um turismo decadente, pois foi nisso que nossa querida Cipó
foi transformada, mas temos fé, temos força e podemos ser mais, podemos
nos reinventar, nos reconstruir e quem sabe, sairmos do esquecimento.
Parabéns ao nosso povo, que como sertanejo, é antes de tudo um forte,
como já dizia Euclides da Cunha. Podemos renascer das cinzas, tal qual
uma fênix, ave mitológica, e alçar novos voos para o futuro. Aos
voluntários Mazé, Maria, Zenaide, Claudinho, Manu, Grazi, Roberto,
Uillian, Tahinã, Mirian, Elaine, Tereza, Alberto, Naiana, Icaro,
Yvanize, Manu, Maíra, Ana Cláudia, Gabi, Simone, Jamile, Deyvisson,
Milla, Lauro, Luca, Taline, Marília, Alain, Marlon e tantos outros, é
uma grande alegria compartilhar com vocês o mesmo objetivo, a mesma
vontade de fazer O MELHOR. Espero vê-los em breve! Sem esquecer a
pequena Maria Helena, que com os exemplos que tem em casa, com certeza
será uma grande mulher!
Aos comerciantes e às pessoas que
enviaram seus donativos à radio, às igrejas, associações ou diretamente
aos moradores, nossos agradecimentos sinceros! Nos resta a esperança de que “após a tempestade, vem sempre a bonança”. Por Niclécia Gama, em 18.01.2014
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